Trago aqui para vocês um relato do Emerson Fittipaldi sobre sua primeira vitória. Espero que gostem.
Abraço,
Rodrigo Klango
“Uma semana antes do Grande Prêmio dos Estados Unidos,
- Emerson, cheguei a uma decisão. Quero que você seja meu piloto número um. Você aceita assinar um contrato comigo?
Com lágrimas nos olhos, numa mistura de alegria e alívio, respondi:
- Aceito.
- Então quero que você vá aos Estados Unidos, faça uma boa corrida, dirija discretamente e termine a prova. Vamos começar do zero em 1971.
Era muita coragem dele me dar o lugar depois do que tinha acontecido
Mas eu não tirava da cabeça que, se vencesse a prova, transformaria Jochen Rindt no primeiro piloto da história da Fórmula
Qualquer piloto que vencesse, tirando Jacky Ickx, faria o mesmo). A imprensa especializada fez questão de me informar: se eu vencesse e Jacky Ickx, da Bélgica, terminasse atrás do segundo lugar, Rindt seria o campeão.
Fui para Watkins Glen tentando não pensar em vencer, mas em obter uma experiência valiosa para merecer a posição de primeiro piloto da Lótus em 1971. Eu ainda estava muito assustado. Uma coisa é pedir a um piloto que termine a corrida sem acidentes e outra é garantir que isso vá acontecer.
Fui com Maria Helena de Londres para Nova York, em minha primeira visita aos Estados Unidos. Queria muito ver de perto Manhattan, que eu só conhecia de revistas e televisão, mas precisávamos de tempo para nos restabelecermos da diferença de fusos horários e pegamos um avião para Elmira, uma cidadezinha do Estado de Nova York, a cerca de
Eu imaginava que Watkins Glen era uma comunidade movimentada, como Montecarlo ou Monza, e fiquei meio decepcionado ao chegar lá. É um lugar pequeno, no meio do nada. Eu não conseguia acreditar que ali era o lugar escolhido para sediar a Fórmula 1 nos Estados Unidos. Onde estavam todos os espectadores? Onde o público de hospedaria? Eu ainda não sabia que nos Estados Unidos a maioria dos espectadores acampa ou fica em trailers, o que pra mim foi uma grande surpresa.
Ficamos hospedados no Glen Motor Inn, junto ao lago que tem o nome da cidade. As árvores estavam se tingindo com a cor do outono, num belo espetáculo da natureza. Poucos dias antes da corrida, o tempo esfriou e no sábado, dia do treino de classificação, acordei com febre e um resfriado horroroso. Antes do início da classificação, eu estava tomado por sentimentos negativos. A morte de Jochen Rindt ainda me perseguia. Além disso, estava sentindo a pressão de tomar o lugar dele, de ser o piloto número um da Lótus, de ser obrigado a não fazer nada que desagradasse a Colin, e de ter ficado resfriado justamente no dia daquela corrida. Estava tudo errado.
Esse tipo de pensamento pode destruir uma pessoa. Eu estava sem confiança, sem saber se estava à altura do que esperavam de mim. Não tinha experiência e havia participado de exatamente 3 provas na Fórmula 1.
Mas tudo aquilo sumiu por enquanto quando saí para a pista e entrei no carro. Aquele era meu lugar, e fiquei feliz com o bom funcionamento do carro da Lótus. Fui o quinto mais veloz (ERRATA: Emmo foi o terceiro). O bom tempo que consegui na classificação melhorou consideravelmente meu estado de espírito.
Às 8 horas da noite do sábado, meu resfriado piorou e a febre aumentou. Liguei para Colin e pedi ajuda. Eu precisava de um médico. Colin foi ao meu hotel e chamou um médico, que me deu uma injeção de penincilina.
Naquela noite, Colin abriu seu coração para mim:
- Emerson, vou dizer uma coisa que você não vai gostar.
- O que foi, Colin? – Eu reagi, preocupado.
- Não quero ter uma relação de amizade com você – Ele disse.
Achei aquilo muito estranho, mas ele logo explicou que, depois do que acontecera com Jim Clark e Jochen Rindt, tinha jurado nunca mais se afeiçoar a nenhum piloto.
- Tenho muito medo de sofrer outra perda na minha vida – Desabafou, ainda abalado pela morte de Colin.
Mas é claro que acabamos ficando amigos. Colin gostava muito de mim e foi meu maior mestre. Foram cinco anos de aprendizado que valeram por mil. Ele era o melhor do mundo, um gênio, e me ajudou muito na minha formação de piloto de Fórmula 1.
Passei aquela noite
- Aonde o senhor pensa que vai? – perguntou.
Mostrei minhas credencias, informei que ia competir na prova e tinha que chegar a tempo para o treino. Felizmente ele não só compreendeu como entrou em sua viatura, ligou a sirene e abriu caminho para mim até a pista.
Vencer a corrida decididamente não era a minha prioridade. Tudo o que eu queria era fazer o que Colin pedira: Chegar ileso ao fim da corrida. Já havia cometido um erro
Eu minha imaginação chegava a ouvi-lo dizendo:
- Emerson, não posso aceitar dois erros seguidos. Adeus.
Era esse o pesadelo que me dominava antes do treino. Mas, como sempre, quando entrei no carro e comecei a treinar, tudo ficou para trás. A adrenalina aumentou tanto que o resfriado e a febre e o resfriado pareceram sumir. Dentro de cinco ou seis voltas, eu tinha esquecido a febre, o resfriado, o mal-estar, os sentimentos negativos. Era simplesmente maravilhoso estar ali, no cockpit do carro. Consegui me concentrar perfeitamente na direção e só depois de dizer a Colin e aos mecânicos que estava tudo bem é que me lembrei do resfriado. Aquilo me deixou com uma sensação positiva antes da corrida.
Jacky Ickx largou em primeiro lugar no grid e eu, na fila atrás dele. Ao contrário de vários outros pilotos que largaram com pneu de chuva, eu decidi largar com pneus para pista seca. A largada foi boa, e como Colin pedira, pilotei com prudência. A pista estava encharcada pela chuva e tive muita dificuldade para controlar o carro. Acabei caindo para oitavo, mas só precisava chegar ao fim da corrida.
Jackie Stewart assumiu a liderança da prova, com Pedro Rodríguez, do México, em segundo e Ickx
As últimas voltas pareciam intermináveis, foram as mais longas da minha vida. Mas, ao mesmo tempo, tudo ficou maravilhoso. Faltando quatro voltas, eu estava decidido a não cometer nenhum erro, a não deixar que a vitória me escapasse por entre os dedos. Estava muito concentrado, dedicado a manter o controle do carro e também das minhas emoções. Aquele era um dos dias especiais em que eu estava ligado ao carro e o carro, a mim. Meu corpo e o carro eram uma coisa só. O carro falava comigo, eu respondia e nós nos comunicávamos em sintonia absoluta.
Depois da última curva
Era minha quarta corrida de Fórmula 1 e eu tinha vencido. Sentia uma onda de emoções conflitantes. Uma felicidade intensa por ter vencido e uma tristeza profundo porque Jochen Rindt, a quem realmente pertencia o título de campeão, não estava ali para recebê-lo. Quando fui para a área do pódio, Colin correu para mim e me abraçou aos prantos, gritando:
- Jochen ganhou o campeonato! Nós ganhamos o campeonato mundial! Você venceu sua primeira corrida!
Ele beijou Maria Helena e quase me beijou também. Depois da tragédia em Monza, vencer
Além da merecida homenagem a Jochen Rindt, o mais importante para a Lótus era que a vitória representava um trampolim para a temporada seguinte. Até o início dela, a imprensa não parou de escrever sobre nós. Os mecânicos, que andavam apáticos, mais uma vez esperavam ansiosos a nova temporada. Todos nós sabíamos que os quatro meses de férias seriam excitantes, as nossas expectativas eram altas. Eu, pessoalmente, estava nas nuvens. Por mim, por Colin Chapman, por toda a equipe. E principalmente por ter conquistado o campeonato para Jochen Rindt. Nossa única dúvida era até onde poderíamos chegar em 1971.
Na segunda-feira seguinte ao milagre de Watkins Glen, Maria Helena e eu voamos para Nova York. Meu orçamento ainda era limitado e ficamos num hotel barato na Broadway. O funcionário do hotel me viu e pegou um exemplar do New York Times que estava sobre o balcão da portaria. A manchete era: “EMERSON QUEM? VENCEDOR DO GRANDE PRÊMIO DOS ESTADOS UNIDOS. PRÊMIO: U$
- É o senhor mesmo? E ganhou mesmo 50 mil dólares?
Eu confirmei, mas aí achei que tinha feito uma grande besteira. Estávamos numa espelunca
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