sábado, 16 de agosto de 2008

As histórias da F1, segundo Monocromático: (02)

A Última Pole de Mario Andretti
Por Monocromático
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1982 foi uma temporada terrível para a Fórmula 1. A segurança dos carros e dos autódromos não acompanhou a vertiginosa evolução da velocidade dos bólidos, impulsionada pelo advento dos carros-asa e dos motores turbo. Acidentes graves ocorriam, como aquele que ocasionou a morte de Riccardo Paletti em Montreal. Conflitos entre pilotos e equipes, e ferozes disputas políticas entre as entidades dirigentes da categoria lançavam uma núvem negra sobre todos.
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Para a torcida tifosi, foi um ano especialmente duro. Começou da melhor forma possível, com a dupla Gilles Villeneuve e Dider Pironi dominando amplamente a tabela. Parecia que aquele seria o ano da Ferrari. Mas em Zolder, uma tentativa louca de ultrapassagem durante um treino interrompeu a vida do canadense, o maior ídolo dos ferraristas. Sete corridas depois, em treino para o GP alemão em Hockenheim, foi a vez de Pironi sofrer um sério acidente que encerrou a sua carreira. Era tão certo que o francês poderia ser campeão do mundo, que sua pontuação só foi superada na terceira corrida após seu acidente por Keke Rosberg (terminou com o vice-campeonato, 5 pontos atrás do Rosbergão).
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Enfim, os italianos estavam arrasados. Patrick Tambay ainda obteve uma vitória em substituição a Villeneuve. Mas essa vitória veio justamente na Alemanha, quando nada estava indo bem, e todas as atenções estavam voltadas ao estado de saúde de Pironi. Desde aquela prova, a Ferrari só inscreveu o carro de Tambay..
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Monza seria a penúltima prova do campeonato. Tudo estava perdido, e o clima seria horrível. O Comendador, então, convidou o único piloto que poderia acender os corações na Itália, o último campeão mundial italiano, que, porém, corria sob outra bandeira: Mario Andretti.
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Andretti já havia, na prática, se retirado da categoria após o fiasco da Alfa Romeo em 1981. No início do ano, foi convidado às pressas pela Williams para substituir Carlos Reutemann, que se demitiu de surpresa, apenas por uma corrida. Mario contava já com 42 anos, e se dedicava à sua carreira na América, quando recebeu o convite de Enzo Ferrari para conduzir carro número 28 em Monza. Era o canto do cisne do velho campeão de 1978, na equipe pela qual obtivera a primeira vitória, no circuito onde primeiro se entusiasmou pelo automobilismo. Não poderia recusar.
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Certas coisas parecem ter sido apenas escritas por um gênio e encenadas propositadamente pelas pessoas comuns. Erasmo de Roterdam dizia que somos todos atores num palco, onde usamos máscaras e encarnamos personagens de alguma peça desconhecida por nós mesmos. Aquele fim de semana seria, no futuro, ofuscado pelos acontecimentos sombrios ocorridos durante a temporada. Mas o que aconteceu ali não pode ser esquecido.
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Como sempre, a Ferrari tinha um ótimo carro para as longas retas e curvas velozes de Monza. Mas não apenas Andretti estava velho e desconhecia o carro - e odiava o efeito solo - como Tambay sentia dores nas costas. No sábado, Nélson Piquet desafiou a supremacia dos carros vermelhos, com 1:28:508, 3 décimos abaixo de Tambay. Mas quando o treino terminou, Mario Andretti havia assegurado a pole com 1:28:473, por um fio de cabelo. Monza veio abaixo. Torcedores se abraçavam e choravam nas arquibancadas, e um frio na barriga se apoderou de todos, torcida, imprensa e rivais.
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A corrida não foi particularmente favorável, com René Arnoux, da Renault (e já com contrato assinado com a Ferrari para 83) dominando amplamente, com Tambay num distante segundo lugar. Mario havia largado mal, mas se aproveitando dos abandonos das Brabham e de Alain Prost à sua frente, o futuro decano do clã Andretti conseguiu chegar ao pódio com a terceira colocação. Mas a alegria havia voltado aos corações estilhaçados dos tifosi, e o mundo pôde seguir em frente. E Mario Andretti pôde se aposentar da Fórmula 1 da forma que merecia, pela porta da frente.
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CURIOSIDADE: Monza foi o último pódio de Mario na F1... e 11 anos depois o primeiro, e único, de seu filho Michael.
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Olha só as duas fotos a direita. O mesmo ângulo, o mesmo capacete e 11 anos depois outra despedida a altura do sobrenome Andretti.
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Fernando Ringel

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