quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NA VELOCIDADE DO PENSAMENTO: Coluna BlogdaIndy.com


__F1 ou Indy? Qual é a melhor? Tema batido, né? Bom, mas foi isso que me veio à cabeça logo após comprar algumas velhas edições da GRID. Folheei as revistas e constatei uma das grandes diferenças entre as duas categorias: praticamente todo o grid da Indy desapareceu, enquanto na F1, (+ ou -) 80 % das equipes do começo dos anos 80, ainda estão na categoria.

A maioria dessas GRID que comprei, são de 1995. Entre as que correram naquele ano, simplesmente desapareceram: Tasman, Rahal, Arciero-Wells, Hall, Dick Simon, Bettenhausen, Galles, Walker, Patrick, PacWest entre outras que chegaram a vencer corridas e até disputar o título.

Talvez você possa dizer, "ah, mas o Tony Bettenhausen morreu, a outra equipe teve tal problema, etc". Ok, isso é um fato, mas coisas assim também acontecem na F1. Equipes vão à falência, seus donos (algumas vezes) presos, mas o nome permanece. Por exemplo, a Brabham foi de Jack Brabham apenas em seus primeiros anos, mas sua fama foi feita quando Bernie Ecclestone comprou o time, que ainda teve outros dois donos antes de fechar em 92. Coisa parecida aconteceu com a Mclaren, que só se transformou na Mclaren que conhecemos quando Ron Dennis comprou a equipe de Teddy Meier... que só tocou o time definitivamente quando o fundador Bruce Mclaren morreu em um acidente em Goodwood.

Na Indy, onde estão Truesports e Galles? Equipes que venceram campeonatos e edições das 500 Milhas de Indianápolis desapareceram sem nenhuma cerimônia de um ano para outro? Na verdade, a Truesports, equipe clássica que chegou a produzir junto com a Ferrari um chassis que seria usado pela Scuderia italiana para o campeonato de Fórmula Indy, virou Rahal e Steve Horne, chefe da Truesports, fez a Tasman, simpática equipe que teve André Ribeiro, Adrian Fernandez e Tony Kanaan como pilotos. Aliás, a Tasman é outra vitoriosa que “foi para o cemitério”.

Já a Galles, precisando desesperadamente de dinheiro, foi uma das que passaram para a IRL em 96, onde ficou até desaparecer por completo em 2001. Ok, empresas vão à falência, são vendidas, tudo tem um começo e um fim, mas e os nomes Truesports e Galles? Sobrenomes “com cheiro de gasolina e borracha queimada” como Bettenhausen, valem muito dinheiro porque têm peso na mídia, tem história no esporte. Um fato que comprova isso é a briga que algumas novas equipes estão tendo para usar nomes de velhos times da F1. Ao que tudo indica, ano que vem, Lola, March, Lotus e Brabham voltarão à categoria, todas com pouca ou nenhuma ligação, além do nome famoso, com o staff original dessas equipes.

Certa vez, um empresário me disse “marca é medo. Quando você entra em um supermercado e não conhece o produto, é muito maior a chance de você escolher o produto da marca que você mais conhece”. Vamos reconhecer, costumamos torcer pelos pilotos das equipes que conhecemos há mais tempo, né? Costumamos ter simpatia até mesmo pelos patrocinadores das nossas equipes e pilotos favoritos. Alguém pensa em Penske com outra pintura que não seja o vermelho e branco da Marlboro? Lotus sem o patrocínio preto e dourado dos cigarros John Player Special??? Às vezes a ligação é tão forte que, mesmo com o fim da empresa, a imagem do patrocínio se torna parte do ídolo. Quer um exemplo máximo disso? Alguém se lembra do Senna sem o boné azul do Banco Nacional? E olha que o Senna morreu há quinze anos e o Banco Nacional faliu pouco tempo depois...

É exatamente disso que estou falando. Na Indy, as equipes podem até mudar de dono, mas que permaneça então a marca. Apesar de ser um hábito do automobilismo americano, a troca na pintura dos carros e capacetes é outro ponto que enfraquece a categoria na mídia. É legal quando você olha para a televisão, vê o carro, e pela cor do capacete sabe quem é o seu piloto preferido, né? Infelizmente, na Indy, poucas vezes isso acontece. Vai dizer que você sabe como são os capacetes do Al Unser Jr e do Rick Mears? Sem falar que as pinturas dos capacetes e dos carros variam demais, alguns mudando de corrida para corrida. Nesse quesito, atualmente, falta até mesmo um capricho quanto à beleza das pinturas, problema que já havia sido resolvido (tanto no design dos chassis quanto na pintura das carenagens) nos belos carros da CART, nos anos 90. (viu o que vc fez, seu Tony George????)

Ainda falando sobre o “lado de fora” dos carros, temos que admitir: apesar do nosso amor pela Indy, na parte estética, o pessoal da F1 é mais organizado.

Só para citar um exemplo mais recente, em 1999, a BAR estreou fazendo pose de campeã, trazendo caminhões de dinheiro e uma estratégia de promoção nova: assim como na Indy, cada carro da equipe teria um patrocinador diferente. O que a FIA* fez? Apesar das pinturas belíssimas, a BAR foi proibida de correr com dois carros diferentes porque isso ia contra o padrão estético da F1... e olha que os carros eram lindos.

Viu? Muito além "mixar" o grid da Champ Car e da IRL, a Fórmula Indy precisa ter sua história valorizada, e estou falando da história da categoria desde 1911. AAA, USAC, Indy, CART, Champ Car, IRL e tudo o que aparecer pela frente tem que entrar no pacote Formula Indy, até porque nesse caso, “a ordem dos fatores não altera o resultado”. Corrida de monopostos em oval faz parte da grife Indy, e Indy é Indy em qualquer época.

Por exemplo, sabia que os espelhos retrovisores foram inventados para a disputa das 500 Milhas de Indianápolis? História e prestígio não faltam quando o assunto é Formula Indy, só que está faltando um banho de loja para tudo ficar melhor ainda. Banho de loja que, convenhamos, seria um ótimo negócio.

Antes que você fique chateado comigo, calma, existe sim tradição na categoria. Temos a Ganassi, Penske, Newman Haas e Andretti-Green (não sei para vcs, mas para mim ela ainda é a Green), todas equipes clássicas, mas também é necessário umas Minardis da vida para colorir o grid. Falta identidade no fundo do pelotão, das pequenas, apenas a Dale Coyne sobrevive até hoje.

Existem equipes como a Hemelgarn Racing, que em muitos anos na Indy, mesmo tendo pilotos do calibre de Gordon Johncock, Scott Goodyear, Arie Luyendyk, Tom Sneva entre outros, e mesmo conquistando bons resultados, costuma desaparecer de uma hora para outra... para ressurgir alguns anos depois. Para quem não se lembra, a Hemelgan era a equipe do americano Stan Fox, naquele horripilante acidente na largada da Indy 500 de 1995, além de ter conquistado o título da IRL no ano 2000, com Buddy Lazier.
Outra que vai e volta, e, olhem só, atualmente está competindo na Indy é a equipe do grande A.J. Foyt, mas quem garante que o time estará na Indy em 2011?

Até equipes que tinham um padrão estético como a clássica All American Racers e suas águias pintadas no nariz dos carros, equipe que fabricou carros vencedores e praticamente todas as categorias top nos últimos 40 anos, desaparece como se nunca tivesse existido e ponto final? Não duvido que ano que vem boa parte do grid do ano que vem seja composto por novas equipes, geralmente, com nomes bem esquisitos e que só vão durar uma temporada.

Viu só? Deveria haver mais valorização dos grandes nomes da Indy, o que por consequência, aumentaria o prestígio da própria categoria. Se não for possível ressucitar bons times “americanos até os ossos” como Walker, Patrick e Truesports, poderia ser feito um mix com equipes míticas de outras categorias. Já pensou em um time da Subaru correndo nos ovais americanos? Só para citar a F1 (prometo que é a última vez), qualquer equipe pequena tem um orçamento para fazer bonito na Indy, nos EUA, o maior mercado consumidor do planeta. Que tal ver novamente a Tyrrell, só que dessa vez na Indy? Garanto que muita gente diretamente ligada a equipe do falecido Ken Tyrrell ainda trabalha no automobilismo e poderia tocar a equipe na Indy, uma categoria rentável para TODO O GRID. Só para esclarecer, a F1, para tristeza do tio Bernie Ecle$tone, nunca conseguiu “acontecer” nos EUA e a Penske só se tornou a aquipe que o mundo inteiro conhece e respeita, depois que abandobou a F1 e abraçou de corpo e alma a Fórmula Indy... deu para perceber o peso ( em $$$$$$$) que tem fazer sucesso nos Estados Unidos?

Garanto que, se uma equipe como a finada Jordan Grand Prix estreasse na Indy, seria um grande golpe de marketing tanto para a equipe quanto para a categoria, e marketing , principalmente na terra do Tio Sam, significa, muito $$$$$$$$$$$DINHEIRO$$$$$.
Já pensou ver a Brabham, BRM ou Benetton na Indy? Por que não uma Ligier Fórmula Indy?

Em 99, existiam fortes rumores de que Emerson Fittipaldi assumiria a Hogan, o que seria a ressurreição da Fittipaldi. O time teria Helio Castroneves e Luiz Garcia Jr como pilotos. Será que, com todo o know how do Emmo, muito dinheiro (patrocinadores não faltariam para um sobrenome desses) e com a possibilidade de poder comprar o melhor conjunto da temporada, você duvida do sucesso da equipe? Para quem duvida, é só lembrar da bem sucedida passagem da Minardi pela Champ Car.

Nossos brothers americanos estão jogando dinheiro fora sem perceber! A categoria, se beneficiaria muito da atenção que essas equipes famosas atrairiam na mídia, de repente até incentivando uma nova, e saudável, “guerra” entre americanos e europeus, como ocorreu entre o final dos anos 80, fato que atraiu a atenção do mundo inteiro.

Você deve estar se perguntando o motivo de, em um site sobre Indy, eu estar falando sobre F1. É que, em termos de marketing, nenhuma categoria automobilística no mundo se compara a F1, aliás, apenas nesse quesito a F1 é de fato a maior de todas. O que acontece é que o Tio Bernie Ecle$$$tone pôs um marketing pesado em cima da F1, criando um culto ao seu passado, que se tornou um patrimônio rentabilíssimo. A publicidade foi tão bem feita por parte da FOM* que coloriu com tons dourados até mesmo os precários e amadoríssimos anos 50 e 60 da categoria. Fizeram o passado da F1 dar um peso a mais para a F1 na mídia, no presente. Focando as seuas qualidades, transformaram uma categoria européia em uma grife mundial. É isso que tem que ser feito, na Indy, fazer dela uma grife invejada, coisa para poucos.

Enquanto isso efetivamente não acontece, a Panther, equipe que surgiu e se firmou como uma das boas equipes da IRL após a cisão com a CART, como tantas outras, também não está mais na categoria. Talvez o nome do “problema” da Indy seja... NASCAR. Mas será que é só o amor dos americanos pela Nascar???

Onde estão os bons pilotos americanos da Indy? Eu gostava do Richie Hearn. Scott Pruett ainda tem condições de correr na Indy. Faltam Sam Hornish, Robby Gordon, Tony Stewart (se o Paul Tracy ainda cabe dentro de um monoposto, garante que com um pouco de vaselina, Gordon e Stewart também entrariam novamente no cockpit, hauhauha)... e olha que tem lugar para todas essas equipes e pilotos, afinal, uma corrida em oval com apenas 23 pilotos, não me parece coisa digna da Indy que todos amamos.

Você pode estar pensando” pô, esse cara só vê defeitos na Indy?” Calma, no campo esportivo, tudo nota 10. Raramente alguma categoria no mundo tem tantas chegadas em que os 3, 5 primeiros colocados cruzam a linha de chegada dentro do mesmo segundo.
Claro que estamos passando por anos de transição, afinal a reunificação aconteceu apenas no ano passado, mas historicamente, falta um pouco de carinho dos próprios cabeças da categoria com a Indy que você e eu amamos.

PS: Tudo o que foi escrito nesse texto é apenas uma reflexão que visa melhorar ainda mais o espetáculo. Existem quesitos essenciais para o esporte, como a competitividade, em que a Indy é imbatível, mas existem algumas lições que podem ser “coladas” da F1, e se na reconstrução da Indy (com “I” maiúsculo), o pessoal puder solucionar esses “probleminhas”, todo mundo vai sair ganhando. Coisa que não vai deixar o seu Bernie Ecle$tone muito satisfeito, né? Tomara que sim, ehehehehe.

*FIA (Federação Internacional de Automobilismo)
*FOM (Formula One Management)

OBS: Semana que vem tem mais no http://www.blogdaindy.com/ . Dê uma clicadinha, esse é o melhor saite brasileiro sobre a categoria.


Um abraço,
Fernando Ringel
feringel@yahoo.com.br

2 comentários:

Bruno Torres disse...

Excelente texto, concordo 100%
Eu gostaria de ver a Benneton na Indy, ia ser 10!
Bem que alguma equipe de F1 poderia correr as 500 Milhas,como fez a Lotus nos anos 60...(se eu nao estiver enganado)
Agora mudando de assunto.... aquele "teste" de F1 ainda tá de pé?? hehehehehehe
Preciso arranjar um capacete....

Flw
Abraço

Ps: Valeu pelo VIP. ehehehe

. disse...

Grande Bruno,

hauhauhauhua, claro que vc é um leitor VIP.

Quanto ao "teste", talvez eu consiga colocar você dentro de uma Williams ou Benetton, nas 500 Milhas de Indianápolis. O que vc acha? topa?



Obrigado pelas colaborações, acessos e comentários, um abraço,
Fernando Ringel
feringel@yahoo.com.br