sábado, 10 de outubro de 2009

A (D)Evolução (?) da Espécie: Fail???

Por Fernando Ringel


__Reparem nos sorrisos e na cor vermelha das equipes. Dois bons pilotos italianos, já em idade um pouco avançada para a F1, finalmente conseguem a grande chance de suas carreiras na categoria. As fotos são bonitas, muito emotivas, mas dentro da pista as coisas não sairam como o esperado, né? Isso me fez pensar, "por que será que, mesmo um piloto do calibre do Senna, só foi campeão quando teve o melhor carro?"

Em 91, no começo do campeonato, a McLaren era o “carro do outro mundo”. Senna venceu as 4 primeiras corridas, fato que lhe garantiu o título, mesmo quando a Williams virou o jogo e Nigel Mansell começou a voar. Viu? E quanto ao apático desempenho de Alain Prost na Ferrari, que culminou com a sua demissão, em 91? Mesmo nomes como Mansell, Senna e Prost, se destacaram principalmente quando seus carros permitiram isso. Viu só? E olha que esses são penas três exemplos de alguns dos melhores pilotos de todos os tempos.


Partindo desse ponto, o que devemos exigir de pilotos mais “normais”, protagonistas de "gloriosos fracassos" como Capelli, Fisichella, Zanardi e Michael Andretti???

Vamos pensar. Os próprios pilotos costumam dizer que o carro é responsável por cerca de 80% do desempenho. Se é assim, dos 20 que sobram, boa parte se deve a política interna da equipe, definindo qual dos pilotos da equipe será o eleito para ter as melhores condições de equipamento. Seguindo o raciocínio, o piloto é reponsável direto por bem menos que 20% do seu desempenho, mas é responsabilizado por 100% dos resultados, especialmente, em caso de fracasso. Como dizia Ayton Senna “a minha vitória é apenas o resultado do trabalho de centenas de pessoas”. Por isso, digo e repito, o piloto é um passageiro de luxo, totalmente supervalorizado.


Dito isso, e o caso do Zanardi? Ok, na Williams ele levou uma surra federal do companheiro Ralf Schumacher, mas vamos analisar as condições enfrentadas pelo italiano. De repente ele vai para a Ganassi, a McLaren da Indy, com status de estrela. Lá, o cara tem o melhor carro, melhor engenheiro e começa a guiar um verdadeiro carro de corrida, nada programado, tudo manual... Depois de conquistar o bicampeonato na Indy, de repente, Zanardi volta pra a F1, com um regulamente totalmente diferente do que ele estava costumado em seus anos de Lotus. Some a isso o fato de Alessandro não caber no cockpit da Williams. Os engenheiros tiveram que sacrificar a aerodinâmica do carro do italiano para que ele simplesmente pudesse pilotar! Só por isso, já dá para dizer que seu carro era inferior ao do companheiro Ralf Schumacher. Ninguém lembra disso, né? Aí o cara tem que se virar com pneus sulcados, cambio no volante, um carro fraco, um cara difícil como "Schumaquinho" (em grande fase, diga-se de passagem), a má vontade da imprensa com pilotos de sucesso nos Estados Unidos... ficou claro que gênio o Zanardi não é, mas alguém que em três anos na Indy fatura dois títulos, pode ser considerado um piloto fraco?


E o Michael Andretti? Acostumado aos carros "de macho" da Indy, carregando o peso do sobrenome, o cara senta em uma McLaren que parecia muito mais um foguete espacial que um carro de corridas... e ainda por cima para ser companheiro de um Ayrton Senna turbinado, louco para desmoralizar o Prost... Apesar da sua postura mimada, se recusando a treinar entre as corridas, Michael enfrentou uma situação beeeeem complicada, né?


A coisa é muito mais profunda do que parece. Quando Fisichella foi chamado pela Ferrari, muitos se lembraram do GP de Monza de 82, quando Mario Andretti foi “ressussitado” pela Ferrari. O que aconteceu? Mario estrou na Scuderia fazendo a pole e chegando em terceiro. Gênio? Tá, ele era fodástico, mas em 82 mesmo, Andretti correu o GP dos Estados Unidos pela Williams (carro campeão com Keke Rosberg naquele ano) e não fez nada... e vale lembrar que a Ferrari tinha o melhor carro, disparado.Por isso pergunto: se o “Super Mario” era tão bom (coisa que de fato era), porque ele não fez quase nada em seus anos de Alfa Romeo e na sua chance com o bom carro da Williams?


Quer outros exemplos? E o Mansell? Voltou bem em 94 pela Williams e, poucos meses depois, desaprendeu tudo na McLaren?


E o Capelli? O que você pode fazer quando se é o segundo piloto e seu carro é uma droga? Beleza era praticamente a única qualidade da Ferrari "F-15", de 1992. Curioso como naquele mesmo ano, a modestissima Fondmetal produziu um chassis lindo e ótimo (para os seus padrões finaceiros). Se o Fondmetal GH 2 (carro hiper elogiado pelo gênio Gordon Murray), e que nunca marcou pontos, tivesse sido feito pela Ferrari... com o dinheiro que a Scuderia tinha para desenvolver o projeto... provavelmente a história seria diferente. Porém, a Ferrari não fez o GH 2. Dessa maneira, alguém precisava ser punido pelo fiasco. Quem foi o bode espiatório? Claro, o cara que encarnou na pista a bagunça interna da Ferrari e que não se deu bem com o pessoal da equipe antes mesmo do início da temporada. Poor Capelli...

Você pode dizer "ah, mas o Capelli não era um Andretti". OK, mas ele também não foi a porcaria que aparentava ser correndo na Ferrari. Ivan é um exemplo de como, por melhor e por mais motivado que esteja, muitos fatores que fogem do controle do piloto, até mesmo a sorte, podem ser determinantes para o seu bom ou o mal desempenho.

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Falando na equipe italiana, Alesi é um exemplo de piloto destruído não somente por carros fracos, mas pelo regulamento, ou seja, pela corrida tecnológica dos anos 90. A F1 começou a virar vídeo game e Jean começou ficar para trás, porém, na chuva, tecnologia nenhuma faz um Jacques Villeneuve ou um Mika Hakkinen andar rápido, e aí, Barrichello, Alesi e Schumacher colocavam as coisas em seu devido lugar. Cada um no seu quadrado...


Por que isso aconteceu? Porque o controle de tração transformou todos os pilotos em Alain Prost e isso somado a todas as parafernálias eletrônicas sacrificou bons pilotos. Nessa época, a bordo de uma Ligier "totalmente manual", nem na chuva o bom Thierry Boutsen conseguia se sobressair...

Certa vez, Schumacher, piloto que tem o singelo apelido "The Greatest" (O maior de todos), disse, “não gosto pilotar na chuva. O que acontece é que sob essas condições, as qualidades na pilotagem de cada um ficam mais nítidas” (não necessariamente nessas palavras, mas a idéia era essa). Mesmo assim, tenho sérias duvidas se Schumacher, com regulamento desse ano proibindo os testes privados, andasse bem com o carro do Badoer. Pode parecer exagero, mas o regulamento muda tanto que a F1 praticamente se torna uma nova categoria de ano para ano. Por isso, de nada adianta comparar as estatísticas do Fangio com outros pilotos mais novos e nem os sete títulos mundiais garantiriam um bom desempenho de Schumacher na Ferrari atualmente.


A coisa é tão diferente de década para década, que os carros de hoje valorizam carcterísticas que atrapalharam muitos pilotos promissores em outras épocas. Da mesma maneira, campeões da F1, talvez não se sobressairiam se tivesse estreado na F1 nos últimos anos. O que seria do estilo espetacular de Ronnie Peterson se existisse controle de tração nos anos 70?


Trazendo o assunto para o nosso cotidiano. Lembra quando você comprou um carro novo? Lembra quando você dirigiu um carro novo? Até você pegar as manhas do carro, você comete alguns erros primários, né? Uma erradinha de marcha aqui, uma freada brusca ali, as vezes o carro apaga na hora de sair porque você não está acostumado com a embreagem... é assim na F1 também. É aí que te pergunto: você que é bom motorista, merece ser chamado de barbeiro porque nunca dirigiu um carro e deixa o motor morrer em um semáforo????


OBS: Semana que vem posto a parte final deste texto.



Um abraço,
feringel@yahoo.com.br

2 comentários:

Carlos Cezar disse...

Excelente texto. Concordo plenamente com tudo que você disse!

Essas mudanças de regulamento e situações fora do controle dos pilotos acabaram com muitas carreiras.

A F1 é muito cruel na maioria dos casos!

. disse...

Olá Carlos,

muito obrigado pelo "EXCELENTE TEXTO", ehehehehe. Fico feliz que vc tenha gostado.

É por pensar assim que sempre cito o De Cesaris, Alesi, Moreno entre outros aqui no VEL MAX.

Quanto a vida na F1, Alex DIas Ribeiro, em seu ótimo livro "Mais que Campeão", comenta sobre pilotos que após passagens frustradas pela categoria dizem "F1, nunca mais".

Dureza, hein?


Obrigado pelos seus acessos e pelo comentário, um abraço
Fernando Ringel