Por Fernando Ringel
__Antes de falar sobre a corrida em si (postarei logo as notas sobre o GP da Alemanha), gostaria de falar sobre "a ultrapassagem que escandalizou a moral e os bons costumes".
Tá, não foi legal com o Felipe, certo? Aham, ok. Só que, imaginem se a Mclaren obrigasse o Senna a andar atrás do Berger em 1991. Seria melhor para o austríaco? Seria. Ele teria vencido mais corridas? Provavelmente sim, mas não tantas quanto o brasileiro... e seguramente a Mclaren não teria vencido os campeonatos de pilotos e construtores daquela ano.
Por quê? Ora, por que simplesmente Ayrton (por "n" fatores) estava conseguindo tirar mais daquela Mclaren que já não era mais o bicho papão de outras temporadas. O time de Ron Dennis estava correndo atrás do prejuízo em relação a primeira das "Williams do outro mundo". Isso lembra um pouco a Ferrari em relação a RBR?
Em 2010, a situação da Ferrari é pior que a da Mclaren em 91. A Scuderia está atrás da RBR e também da Mclaren. São dois rivais, 4 pilotos dispostos a estragar a festa de Maranello (sem falar que já estamos na metade da temporada).
Naquela época, a Ferrari estava em uma situação muito mais confortável, com Schumacher liderando o campeonato. Rubinho foi de fato mais rápido que o alemão durante a maior parte do final de semana (incluindo toda a corrida, fato comum em A1 Ring). Naquela época, a ordem dos boxes foi muito mais um capricho infantil de Michael Schumacher que cautela por parte da equipe.
Voltando para 2010, quem (em sua vida profissional) nunca passou pela situação do Felipe?
Emprego = engolir sapos por dinheiro. Apesar desse ar de rock star dos pilotos criado por Bernie Ecclestone (junto com a "Hollywoodização" da F1 a partir dos anos 80), piloto é funcionário e equipes são empresas.
Apesar de multi milionários, Schumacher, Alonso e Massa não são os chefes. As experências de Alain Prost, Emerson Fittipaldi, Lauda (entre outros) como chefes, demonstra que apesar (outro apesar?) do talento acelarando, isso não significa que (mesmo os campeãos) sejam melhores que pilotos frustados como Colin Chapman, Ron Dennis ou Ecclestone são (eram) fora das pistas.
Este é um problema criado quando o primeiro chefe de equipe disse, "quero ter dois carros disputando o campeonato". Se apenas um vence, claro que em uma dupla de pilotos alguém vai ficar chateado.
o que considero mais justo, sem falar nas chances infinitamente maiores para a entrada de novas equipes e pilotos. Isso reforçaria a união do time, seria algo do tipo "somos nós contra o resto do mundo".
Porém (tem sempre um porém, né?), enquanto os cabeças do automobilismo não chegam a essa conclusão, isso será uma grande idéia apenas quando o presidente da FIA pensar nisso, daqui há uns 50 anos...
Se eu fosse dono de uma escuderia, a negociação seria a seguinte: "você vai ser o segundo piloto. Fará parte do time, porém sem regalias e sem reclamações. Aqui o primeiro piloto é o Alesi. (kkk) Você topa ser o segundo?" Se o cara topar, coloca no contrato que não tem essa de reclamar pela imprensa. Trato é trato.
Só o Mansell ficou com fama de chorão, (o Barrica tbm), mas a grande maioria dos pilotos são chorões. Piloto adora se fazer de vítima. Ayrton Senna, só para citar um famoso, é um exemplo máximo disso. É só não vencer que o mundo inteiro é culpado, tem que sempre alguém mal no caminho lhe impedindo de ser o melhor da Via Láctea e blá, blá, blá, buááá pra cá e buááá pra lá. Salvo um Kimi Raikkonen aqui e ali, isso se deve em parte pelo fato de que, ser piloto é coisa para milionários.
Os caras não tem experiência como funcionários. Enquanto o sonho do brasileiro é ter um carrinho popular usado e vá lá sua casinha própria, quem é piloto paga centenas de milhares de reais (euros, dólares) apenas por um teste, uma corrida em uma categoria de destaque. Aí quando a (empresa) Ferrari resolve pensar nos seus interesses (o título = o $$$, inclusive para pagar o salário do Alonso e do Massa), os pilotos (e os que só não são pilotos pq não são milionários, nós) acham ruim.
A Penske tinha tudo para conseguir a dobradinha. Dominaram todo o final de semana. Pole para Will Power, corrida quase de ponta a ponta liderada por Helio Castroneves. Faltando 3 míseras voltas, bandeira verde e Power parte para cima do brasileiro. Helinho óbviamente se defende, os dois quase tocam rodas, o que, além de causar um possível abandono da dupla (!), ainda deu a chance de Scott Dixon assumir a segunda posição.
RESULTADO: em menos de duas voltas, por falta de um posicionamento da equipe, a dupla jogou todo um final de semana (dobradinha = prêmios $$$), tudo no vaso sanitário. Helinho foi punido, caiu para a décima posição. E Power? Estava em segundo para ficar com a vitória? Neca, Scott Dixon venceu. Chip Ganassi agradeceu pelo din-din enquanto Roger Penske ficou chupando o dedo.
Todos vemos a briga entre os pilotos como uma falha da equipe. O que tem seu fundo de verdade. Porém, dou a mão à palmatória: imagina o quanto deve ser difícil conciliar os interesses da equipe com os egos ultra inflados dos pilotos? Poor Domenicalli, poor Christian Horner. O descontrole do Helio Castroneves em Edmonton, após a punição, dá uma noção do quanto de estrelismo envolve o automobilismo.
De que adianta ter dois pilotos choramingando a perda do título merecido pela equipe enquanto um outro time saboreia o champagne? Reutmann X Jones, Montoya X Ralf, Mansell, Frank Williams é doutor nisso. O jogo de equipe sempre existiu e como disse Schumacher, não é errado, só deve ser feito com descrição. O que aconteceu com Massa não foi legal, mas...
pilotos são contratados (e muuuuito bem pagos) para defender os interesses da equipe. Já pensou se a equipe tivesse qye pagar milhões para defender os interesses dos pilotos. Seria meio estranho, não seria?
Em Hockenheim, Alonso saiu perdendo, Felipe (no seu ponto de vista) também, mas Ferrari fez uma bela dobradinha.
OBS: já posto a resenha completa sobre o GP de Hockenheim.
Um abraço,
Fernando Ringel
feringel@yahoo.com.br
@Fernando Ringel ("Sigam-me os bons", kkk)
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