terça-feira, 5 de maio de 2009

A Verdadeira Chance de Felipe Massa

Ser lembrado como vencedor que se superou ou conformista que não fez o possível:
uma escolha que só depende de Massa


Por Pedro Ivo

__Esse momento já foi visto várias vezes na F1 desde sua criação nos anos 50: um piloto, já tendo sido campeão ou não, passa por um momento de provação na carreira. Na maioria das vezes esse "momento de provação" consiste em ir pra uma escuderia menor e fazer o que pode por lá, ou até mesmo quando este se mantém na mesma escuderia, mas luta para que ela melhore durante o campeonato, pela escuderia não ter o mesmo bom desempenho do ano anterior.

Exemplos temos inúmeros, e entre eles até alguns brasileiros. Por exemplo, Nélson Piquet, já tricampeão, trocou a Lotus, onde estava há duas temporadas depois do tri, pela Benetton. A escuderia colorida já era razoavelmente boa antes da chegada de Piquet, uma vez que não faltavam investimentos. Mas a chegada do brasileiro deu um "boost", uma injeção de ânimo na escuderia, que precedeu as boas temporadas de 92 a 95, e rendeu uma infinidade de vitórias e dois títulos mundiais de pilotos á equipe, além de bons lucros tanto para o próprio Piquet quanto para o então chefão da Benetton, Flavio Briatore. Inclusive há quem diga que Michael Schumacher pegou um terreno bem mais amaciado por causa da passagem pelo Piquet na Benetton.

Damon Hill, já campeão, mas muito desacreditado pelos torcedores e várias pessoas do circo, provou sua capacidade de pilotagem e honrou seu sobrenome ao tirar leite de pedra na Arrows em 97 e dar as primeiras vitórias da Jordan entre 98 e 99. Ayrton Senna fez isso também quando já tinha três títulos no currículo, enfrentando por duas temporadas as "Williams de outro mundo" com Mansell em 92 e Prost em 93 com um equipamento que era evidentemente inferior, mas que mesmo assim obteve vitórias e pódios. O ídolo eterno da torcida ferrarista, Gilles Villeneuve, não se abateu na temporada de 81, e mesmo com um carro que era aquém das suas expectativas conseguiu duas vitórias.

Todos esses pilotos tiveram histórias de superação e luta, que marcaram não só suas carreiras como escreveram seus nomes nas escuderias onde competiram. E onde Felipe Massa se encaixa nessa história toda?
Simples. Além de já ter conquistado a simpatia da torcida brasileira, e de ser o primeiro piloto desde Ayrton Senna que de fato concorreu ao título, já mostrou que tem toda a capacidade de guiar sem erros, como ficou evidente em Interlagos no ano passado. Mas, Muito mais que 2008, essa temporada pode se tornar um divisor de águas na carreira dele. Ano passado ele tinha um carro que lhe dava todas as chances de ser desafiante direto ao título, ao passo de que esse ano a F60 já se mostrou um projeto mal-nascido e mal-executado. E, se com esse carro inferior ele conseguir resultados, ainda que mais modestos que os de suas temporadas passadas pela Ferrari - mesmo se levarmos em conta que ele dificilmente conseguirá ser campeão esse ano, já que escuderias como Brawn Racing e Red Bull Racing abriram bastante vantagem - isso fará uma diferença enorme. Não só em sua carreira na escuderia, como também na visão de boa parte da torcida, que verá que, tal qual Hill, Piquet, Senna e Villeneuve, entre outros que não foram citados aqui, ele fez mais que o equipamento em mãos lhe permitia e não se abateu perante os percalços que tinha pelo caminho.

Na verdade a trajetória de Felipe Massa já teve sim vários altos e baixos - assim como várias "horas da verdade" - , e isso não somente na F1. Em fins de 2001, quando ainda era um jovem campeão da então F3000 Internacional, ele foi sondado pela Sauber (hoje BMW-Sauber) - que na época era quase que um "time B" da Ferrari, quase como RBR e STR ou McLaren e Force India hoje em dia - para correr a temporada 2002. O garoto andou muito bem nos testes e atraiu a atenção do circo para ele. Durante a temporada, não andou mal, mas perdeu a sua vaga no final do ano, ficando fora do certame de 2003 e ocupando seu tempo como piloto de testes da Ferrari. E foi aí que sua carreira começou a mudar o rumo.

Até aquele momento, Massa tinha habilidade e capacidade, mas pouco se interessava pelas questões técnicas e internas da equipe. Não se importava muito em ajustar e afinar o carro para tirar o máximo dele, apenas queria acelerar e pronto. O ano que passou como piloto de testes da Ferrari o fez mudar essa visão de acerto do carro. E para isso contou com dois bons professores: Michael Schumacher e Rubens Barrichello. As temporadas seguintes que correu na Sauber (2004 e 2005) confirmaram a melhora, pois por vezes ele conseguiu chegar em 4º lugar nas corridas, ou seja, próximo do pódio com um carro que era até mediano, mas que não rendia o mesmo que as grandes da época (Ferrari, McLaren, Williams e Renault). Inclusive, em 2005, ficou na frente de Jacques Villeneuve, companheiro de equipe dele, além de ser um piloto muito mais experiente.

A tajetória continuou ascendente em 2006, conquistando duas vitórias e vários pódios no seu primeiro ano numa equipe grande (Ferrari), onde mesmo que tenha passado pelo mesmo jogo de equipe que minou a carreira de Rubens Barrichelo, continuou sendo um bom aprendizado para Massa, que ao final do ano começou a dividir as atenções da escuderia com Kimi Raikkonen, após a saída do heptacampeão Michael Schumacher. Mas Felipe tinha a seu favor a simpatia de Schumacher, assim como seu total apoio.

Em 2007 lutou pelo título até algumas corridas antes do final. Mas foi obrigado a ser escudeiro de Raikkonen em virtude da melhor colocação do companheiro de equipe no campeonato. E, em 2008 a situação se inverteu, onde Massa lutou até a última corrida da temporada, perdendo o título para Lewis Hamilton por poucos metros no GP do Brasil.

E onde entra 2009 na carreira de Felipe Massa? O verdadeiro ano do desafio. Mas um desafio grande, diferente dos outros. Se entre 2002 e 2005 a sua luta foi mostrar que tinha capacidade de ir para uma escuderia grande, e entre 2007 e 2008 foi para mostrar que podia lutar pelo título, agora é diferente. Tal qual ocorreu com Hill, Piquet, Senna e Villeneuve, Massa tem um equipamento que rende muito menos que o das velozes Brawn Racing e Red Bull. E esse momento é que fará diferença na carreira dele. Como? Simples.

Conseguir bons resultados sobre o companheiro de equipe não só levantará sua moral (que não é baixa) dentro da Ferrari, como o colocará numa posição mais confortável na disputa interna na escuderia de Maranello. Bons resultados com esse carro mais fraco também evitarão que sua carreira comece a declinar, e vale lembrar que em situações como a de Alan Jones na Arrows, pelo piloto não ter conseguido segurar a barra, isso marcou o começo do fim - ou até o fim declarado mesmo - da sua carreira. Tal qual a foto que abre o post mostra, esse ano é que Massa pode escolher seu verdadeiro destino na categoria. Se passar dessa temporada ruim com resultados no mínimo medianos, mesmo que conquistados à base de muito braço e suor, terá muito reconhecimento e o cacife (ainda maior) de exigir de toda sua equipe técnica cada vez mais. Caso contrário, terá seu companheiro de equipe saindo por cima (ainda mais por ele já ter um título mundial) e isso marcará um declínio indesejado na sua carreira, ocorrendo com ele o que pode ter acontecido com Alan Jones (como já foi citado) ou até com Nigel Mansell em seu retorno no fim de 1994, que, como não empolgou, não emplacou.

Muitas vezes já ouvi uma frase que diz que "o verdadeiro campeão surge das adversidades que enfrenta". E, nunca essa frase foi tão condizente com Felipe Massa, pois essa sim, mais do que nunca, é a hora da verdade para ele.

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Um comentário:

De Gennaro Motors disse...

FELIPE FELIPE.....em CRISE